segunda-feira, 16 de maio de 2011

Jovens e donos do próprio negócio

Pesquisa global mostra que jovens entre 18 e 24 anos já ocupam o segundo lugar no ranking dos que mais empreendem

Ainda no ensino médio, três amigos que não encontravam na moda brasileira um estilo descolado o suficiente para vestir resolveram apostar na confecção de suas próprias roupas. Foi assim que um deles, Guilherme Teixeira,começou a desenhar estampas para camisetas que tiveram boa aceitação entre seus amigos. Empolgados com a possibilidade de montar uma marca de roupas diferente, Fábio Di Gregorio e Rodrigo Watson, ambos com 18 anos à época, uniram-se a Guilherme e criaram a empresa Soul em 2006.

Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena
Os amigos Rodrigo Watson, Pedro Braun Sampaio, Lourenço Braga, Fábio Di Gregório e Guilherme Teixeira (esq. para dir.) desenvolveram a marca Soul ainda no colégio
Sem nenhuma experiência anterior em negócios, os jovens investiram cerca de R$ 10 mil para buscar materiais e confecções especializadas. No caminho, ganharam o reforço dos amigos de infância, que também tinha acabado de completar 18 anos, Lourenço de Almeida Braga e Pedro Braun Sampaio. “No começo, íamos ao Brás e procurávamos tecidos para ...
confeccionar as camisetas, mas as produções ainda ficavam muito amadoras. Até encontrarmos uma empresa que produzisse bem nossas roupas, demorou um ano e meio”, diz Teixeira.
Foi com esse espírito empreendedor que, em 2008, os cinco jovens paulistas lançaram a primeira coleção oficial da marca Soul, com roupas masculinas inspirada em temas como natureza, música e esportes. “Conseguimos vender todo o estoque da primeira coleção nos eventos em que divulgamos a marca e isso nos estimulou a continuar investindo”, afirma Teixeira. O crescimento das vendas nas lojas multimarcas fez com que decidissem investir, em outubro de 2010, em sua própria loja. “Tivemos medo de arriscar no início, mas sempre acreditamos no negócio e aceitamos abrir mão de outras oportunidades. No ano passado já registramos faturamento de R$ 500 mil e temos a expectativa de dobrar esse número em 2011”, diz.
A disposição do jovem brasileiro para criar um negócio próprio foi um dos aspectos registrados na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, a GEM 2010, realizada pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) em parceria com o Sebrae. O estudo mostrou que em 2010 os empreendedores que mais iniciaram novos negócios – após a faixa etária de 25 a 34 anos - foram aqueles com idade entre 18 a 24 anos.
Os jovens empresários alcançaram 17,4% de participação e foram motivados principalmente pelas novas oportunidades (10,7%), seguidos pelos que vêem no empreendedorismo a única saída para entrar no mercado (6,3%). Esse foi o mais representativo resultado já alcançado por esta faixa etária nos últimos anos. “Os jovens possuem mais ousadia na hora de montar seu próprio negócio, o que é uma característica positiva para o empreendedorismo e deve ser aproveitada”, afirma Luiz Barretto, presidente do Sebrae.
A pesquisa GEM 2010 também constatou que Brasil e Rússia são os únicos países do grupo das 20 maiores economias do mundo (G20) em que a faixa etária de 18 a 24 anos é mais empreendedora que a de 35 e 44 anos. “Para aumentar o número de jovens brasileiros com negócios próprios é preciso avançar na cultura empreendedora e facilitar o acesso ao crédito, principalmente para eles que não têm muitas garantias financeiras”, diz Pio Cortizo, gerente de gestão estratégica do Sebrae.
Bons ventos para a juventude
Entrar no mundo dos negócios foi desde cedo a vontade dos cariocas Ederson Souza, Ronaldo Gouvea e Pedro Correia. Com aplicações no mercado financeiro aos vinte anos de idade, os amigos acumularam capital, mas sofreram com a instabilidade do mercado. Em 2009, para buscar rendimento mais concreto e duradouro, investiram R$ 180 mil de recursos próprios em um negócio voltado à comida japonesa – o T Maki Club.
“Criamos um plano de estratégia e resolvemos correr atrás de tudo sozinhos. A internet ajudou em nosso aprendizado já que nunca tivemos experiências com empresas próprias”, diz Souza. O negócio que gera um faturamento de em média R$ 300 mil por ano, ainda não permite aos jovens dedicarem-se exclusivamente à sua administração. “Trabalhamos em nossas áreas originais de formação, mas no futuro talvez nos dediquemos totalmente ao restaurante”, afirma.
Foto: Guilherme Lara Campos/Fotoarena Ampliar
Os jovens Rafael Cordeiro (dir) e Ernesto Vilela restruturaram o modelo de seu negócio
Rafael Cordeiro é outro jovem empreendedor que identificou uma oportunidade logo cedo em sua carreira. Em 2004, o curitibano tinha 23 anos quando abriu uma agência de publicidade em sociedade. A grande concorrência, entretanto, não permitiu bons resultados e o fez pensar na reestruturação do negócio. A oportunidade surgiu com Ernesto Villela, proprietário de um bar e amigo de Rafael, que procurava uma empresa para desenvolver o plano de marketing de seu estabelecimento. “Ernesto não encontrava uma agência que oferecesse o modelo que precisava. Expliquei minha ideia e ele quis fazer sociedade comigo em uma nova empresa. Então fundamos a Enox”, diz Cordeiro.
Com proposta de criar publicidade em painéis e diferentes tipos de mídias nos estabelecimentos comerciais, a Enox teve inicialmente quatro sócios que investiram R$ 5 mil cada e passou por duas transições. “Nosso modelo de negócio era restrito às propagandas de banheiros. Hoje, investimos em bolacha de chopp, display de mesa, adesivos de espelho e até nos cardápios”, afirma o jovem empresário. A reestruturação desenvolveu a empresa que possui hoje 20 escritórios e mais de 200 funcionários.


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