terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Câncer em jovens tem diagnóstico tardio, diz estudo


Adriano tem 14 anos e ficou meses com um caroço na barriga, o primeiro sinal de câncer. Curioso, chegou a cutucá-lo como se fosse uma espinha, sem contar nada aos pais. Também os primeiros médicos que o atenderam achavam que se tratava de uma doença de pele. Quando finalmente chegou a um hospital especializado, fugiu no dia da primeira biópsia. E ainda se rebelou contra o início da quimioterapia. Só aceitou o tratamento depois de...
uma dura conversa com o pai. Histórias como a de Adriano preocupam cada vez mais os oncologistas no mundo inteiro. Estudos internacionais apontam que a faixa etária ainda não tem um atendimento adequado, o que levaria a uma demora maior para o diagnóstico dos cânceres em adolescentes, menor adesão ao tratamento e baixas taxas de cura se comparadas às das crianças. No Brasil, onde o câncer é a doença que mais mata entre 5 e 18 anos de idade, um recorte dos registros do Instituto Nacional de Câncer (Inca), realizado a pedido do Estado, mostra que a mortalidade pelos tumores é maior entre 10 e 18 anos. Eles representam 6,8% das mortes da faixa etária, contra 2,1% entre os menores de 10 anos. Os motivos para a diferença de mortalidade no País, no entanto, ainda são desconhecidos, explica Sima Ferman, chefe da seção de oncologia pediátrica do Inca. O recorte mostra ainda que, enquanto em geral a leucemia é o que mais mata, entre 10 e 18 anos são outros tipos de tumores que mais causam mortes, como as neoplasias malignas epiteliais e os cânceres ósseos.
"Na realidade, essa é uma faixa etária ainda muito negligenciada", afirma Sidnei Epelman, presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), entidade que mantém na zona leste de São Paulo, vinculado ao Hospital Santa Marcelina, um ambulatório conveniado ao Sistema Único de Saúde onde 40% dos 200 casos novos anuais é de adolescentes e adultos jovens. "O mundo inteiro discute como e onde tratar esses pacientes."
No ambulatório, onde também são atendidas crianças, a entidade optou por criar espaços especiais para os adolescentes, improvisou quartos individuais com biombos, reservou um espaço para lan house e também oferece aulas de culinária, em que pais e filhos podem aprender a cozinhar e almoçar juntos.
Segundo os estudos feitos fora do País, os dados menos favoráveis para adolescentes estão relacionados não só à carência de serviços como também a características da própria adolescência, como desejo de maior autonomia e o distanciamento dos pais. Além disso, adolescentes com câncer são menos contemplados em estudos clínicos, essenciais para o avanço dos tratamentos.
Epelman destaca que artigo de revisão publicado no ano passado na revista Pediatric, Blood and Cancer, da Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica, alertou para a necessidade de um esforço internacional para entender e atender, ainda nesta década, às necessidades desse grupo de pacientes "esquecidos". "Foram necessários quase 40 anos para alcançarmos taxas de cura de até 80% para o câncer infantil (...) Para adolescentes e adultos jovens, deveríamos buscar o mesmo objetivo para esta década", escreveram os autores, Karen Albritton, do Instituto de Câncer Dana-Farber, em Boston (EUA), e Tim Eden, da Universidade de Manchester (Reino Unido).
Sima, do Inca, afirma que o órgão está discutindo a criação de um espaço especial para os adolescentes em suas instalações no Rio e modos de dar mais atenção à faixa etária em suas políticas públicas.
"Isso ainda está bem incipiente no Brasil. O ideal é criar uma área intermediária. Outra dificuldade é o encaminhamento. Muitos prontos-socorros entendem que a partir de 13 anos o paciente não é mais pediátrico", afirma Gustavo Neves, médico assistente do departamento de oncologia pediátrica do Hospital A.C. Camargo de São Paulo, que também mantém atendimento para os adolescentes.
ALERTA
6,8% das mortes
entre 10 e 18 anos são por câncer, segundo registro do Inca, contra 2,1% em menores de 10 anos
78% dos jovens
precisaram de 2 a 5 visitas ao clínico para serem encaminhados a um oncologista, mostrou estudo inglês
24% dos doentes
entre 15 e 19 anos ingressaram em estudos clínicos, contra 64% daqueles que têm entre 0 e 4 anos

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