Outro dia, num telejornal, uma matéria abordou a falta de
qualificação profissional no Brasil. Desta vez, por alguns instantes, o
foco da matéria se desviou para a questão da educação. Mas,
infelizmente, ainda não foi dessa vez que o tema foi abordado com a
coragem que merece e logo o foco retornou à exploração simples da falta
de profissionais qualificados para ocupar as vagas, agora não só do
topo e do meio da pirâmide, como da base também, representada por lojas
à procura de vendedores; empresas buscando operadores de máquinas
específicas de produção e, não só não os encontrando, como desistindo
de ocupar as vagas...
Situação ilustrada de uma forma simples: de vinte
candidatas a secretária que se apresentaram à vaga, restaram três e
cada uma não atendia a um requisito dos três exigidos (curso, inglês e experiência).
Para uma solução verdadeira, não adianta abordar os problemas sem
trabalhar as causas. Vejamos como cada um contribui para essa situação:
GOVERNOS
A economia chinesa já é a 2ª maior do mundo à custa da exploração de
mão de obra: o salário pago a um trabalhador de uma montadora na China
corresponde à cerca de R$ 630,00. Em várias províncias chinesas, os
salários variam de R$ 52,00 a R$ 136,00 por mês e carga de até 12 horas
diárias. Vale lembrar que a China é o maior parceiro comercial do
Brasil e que esse “sistema predatório” tem uma extrema necessidade de
expandir-se com seus mais de 1,3 bi de habitantes com uma renda per
capita de apenas US$ 7.500,00. Enquanto no Brasil, é de US$ 10.237,00
(que cresceu 275% em 10 anos) e nos Estados Unidos de US$ 46.716,00,
vem um país na Europa Ocidental chamado Luxemburgo com US$ 80.431,00.
Lá, um professor ganha em torno de R$ 7.200,00 por mês em uma única
instituição. Prova de que as maiores potências comerciais não detêm a
melhor qualidade de vida, mas quem investe na qualidade da educação gasta menos com segurança, saúde e outros programas sociais.
Esse “invejado” modelo chinês tira profissionais da preparação e os
coloca diretamente na produção. O apoio a esses comércios com o fim de
arrecadar impostos nos ensina que qualidade é algo que vem bem depois.
Não se pode pensar como Luxemburgo e agir como a China. O Brasil tem que
proteger seu comércio contra as exteriorizações de custos para
fortalecer nosso mercado garantindo a competitividade e isso não
significa fechar portas ao comércio globalizado, mas abri-las aos
brasileiros ofertando também um novo modelo de educação preparatória que
nos ensine COMO crescer melhor, preservando nossos recursos naturais e
praticando justiça social.
A falta de qualificação não é de agora. Ela foi semeada no decorrer
de uma longa história e só percebida diante do desenvolvimento de um
Brasil que conta com o destaque de algumas pessoas (profissionais e
alunos) que fazem a diferença na educação pública e com a eficácia de
uma parcela da educação particular (absorvida por uma minoria) para
atenuar a grave situação.
Há mudanças em nosso caminho, mas temos que caminhar mais rápido. No
ranking da educação mundial, o Brasil ocupava o 88º lugar e em 2010
pulou para 53º – ainda muito lento comparado com a inovação tecnológica
que experimentamos em ritmo acelerado. Os centros técnicos espalhados
pelo Brasil não atendem à demanda
do mercado. O ensino público se arrasta com suas deficiências
desmotivando seus alunos à continuidade do aprendizado. É um sistema em
crise que, durante anos, acomoda o aluno e o envia despreparado, sem
intenções e sem projetos, ao mercado urgente e exigente. Um sistema que
cobra por aquilo que não oferta.
EMPRESAS
Elas não conseguem competir sem redução de custos. Não lidando bem
com seus próprios processos, partem para o corte de mão de obra. Não é
difícil ver redução de folha de pagamento em uma empresa que não se
sobrepõe a uma situação e aí desestabilizam mercados com sua
rotatividade. Pior, é notória a redução remunerativa em vários segmentos
do mercado. Isso gera uma migração para aqueles setores em que tem o
bom salário como maior atração. Por isso ouvimos empresas se lamentando
por não encontrar mão de obra qualificada para ocupar uma vaga de
liderança com salário beirando mil reais. Paralelo a isso, vêm “empresas
educacionais” cobrando 10, 20 mil, por um curso básico de quatro anos
para um mercado que não paga o investimento. Sabendo disso e baseadas
sempre em custos imediatistas, essas empresas não capacitam seus
funcionários em programas internos por temerem que esses possam partir
em busca de melhores condições.
O desafio, nessa árdua competição, é ofertar aos funcionários um
alcance da qualidade de vida como fator motivador ou, pelo menos, um
salário digno à sua preparação e importância na organização, preservando
o fator humano como seu maior patrimônio já que o mundo é regido por
novas idéias. Isso requer investimentos em profissionais e um melhor
aprendizado à convivência entre dois fatores vitais que insistem em
divergir: lucros e pessoas.
PROFISSIONAIS
O mercado brasileiro está em ascensão e isso traz uma sensação
perigosa para alguns profissionais que se acomodam achando que terão
emprego logo que quiserem. Outros não querem um trabalho que lhes traga
problemas, outros preferem alimentar “sonhos” e não metas para o
alcance de objetivos planejados, enquanto outros buscam a profissão
ideal. O que deve haver é uma BUSCA IDEAL por uma profissão por meio do
conhecimento. Mas, enquanto o mercado convida, muitos se escondem atrás
de um trabalho esgotante, de uma longa distância e de uma falta de
tempo. E quem disse que seria fácil correr atrás de ideais? O que se diz
é que não se pode fazer o que se gosta, tem que fazer o que o mercado
mandar. Na verdade, tem que amar o que se faz. Aprimorar-se,
renovar-se, inovar… Se abrir a novos conceitos não quer dizer vender
valores pessoais, quer dizer tornar-se grande. E, Deus como alimento do
espírito e a educação como alimento do homem, forma um ser humano
nessa grandeza.
É necessário observar a rapidez dos mercados, eles mudam enquanto
você se prepara. Por isso, concordo com uma base de curso mais rápida e
atualização contínua. A busca pela informação é fator de sucesso em
qualquer área. Professores são facilitadores brilhantes, mas é de você
que parte a fome pelo conhecimento e pelo crescer.
Portanto, a educação de qualidade é nosso maior patrimônio e a maior
certeza de que, se tudo começa em cada um e termina em todos,
colheremos frutos de realizações pessoais e profissionais dentro de uma
sociedade mais humana e mais justa. Estamos no caminho certo?
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