sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mensagem: Arrependimento e Fé

Marcos 1.15

Introdução

Operando no homem, a graça de Deus faz ressurgir nele não só a sensibilidade para o pecado como, também, o horror que a consciência sensível manifesta em relação ao pecado.

No entanto, se o homem tivesse, apenas, a sua consciência despertada para sentir os efeitos do pecado, mas, em contrapartida, não recebesse de Deus o auxílio que o habilita a lutar contra o pecado e a vencê-lo, ele atingiria as raias do desespero.

O homem se encontraria nas condições deprimentes de quem conhece o seu mal, mas não conhece remédio para debelá-lo. A Fé, porém, vem em seu socorro.

1 - QUE É QUE SE DEVE ENTENDER POR ARREPENDIMENTO?

1. Arrependimento não se confunde nem com o remorso nem com a penitência.
Cremos que não erraríamos se disséssemos que o remorso é o arrependimento sem fé e, em geral, leva ao desespero. Veja-se o exemplo de Judas Iscariotes, o traidor do Senhor.

Depois de ter reconhecido que pecara, traindo sangue inocente (Mt 27.4), Judas enforcou-se. O verbo grego empregado para expressar o arrependimento de Judas é metamélomai, o mesmo que aparece, por exemplo, em Mt 21.30,32 e em II Co 7.8.

Parece-nos que este verbo expressa o arrependimento que nasce do próprio homem, nasce quando ele mesmo, levado por seus próprios sentimentos, reconhece que come-teu um erro ou uma falta grave contra alguém. Neste tipo de arrependimento nada há que se pareça com o arrependimento de que nos fala a lição de hoje.

2. Na teologia católico-romana, a penitência é sacramento. É forma de arrependimento e requer a confissão, ao padre, dos pecados cometidos. Depois da confissão, o padre prescreve o que o penitente deve fazer para expiar os seus pecados.

Associada à penitência, pois, está a necessidade de o penitente - isto é, o que se reconhece e confessa pecador -, fazer alguma cousa para expiar os pecados reconhecidos e confessados.

Nas Escrituras, porém, nada há que justifique tal doutrina. Quando o jovem rico perguntou a Jesus que é que devia fazer de bom para herdar a vida eterna, a resposta que o Senhor lhe deu, em última análise, implica em que ele, primeiro, devia ser alguma cousa nova. O arrependimento de que nos fala a lição de hoje, é aquele por meio do qual o homem nasce de novo e se torna nova criatura.

3. O verbo grego metanoéo (= voltar atrás, retratar-se, reconsiderar, arrepender-se) aparece em Mc 1.15 e em At 2.38, além de aparecer em outras passagens. Os dois textos acima indicados são, respectivamente, o texto áureo e o texto fundamental da nossa lição.

O arrependimento que ele expressa, não é o que se opera no homem de dentro para fora, por vontade do próprio homem, mas é aquele que, pela graça de Deus, se opera no homem de fora para dentro. O verbo metanoéo se compõe de duas palavras gregas: meta (que, em alguns compostos, indica mudança de meio ou de condição) e nous (= mente, entendimento). Assim, o arrepender-se, no sentido do Novo Testamento, consiste em mudar o estado da mente ou do entendimento, dando-lhe nova condição de vida. Esta operação é realizada pelo Espírito


2 - A FÉ QUE SALVA

1. Entre os escolásticos, durante a Idade Média, desenvolveu-se uma noção de fé muito peculiar. A fé, que muitos conheciam, nascia de convicções que a razão produzia na mente do teólogo. Era fé explicável. A este tipo de fé, Lutero chamou frigida opinio (= opinião fria), porque não produzia efeitos, não dava frutos.

Entretanto, a fé de que nos fala a Bíblia, não se explica racionalmente, é inexplicável, mas os frutos que ela produz na vida do homem que a recebe e desenvolve, atestam a sua eficiência. Por meio desta fé recebemos a graça salvadora que Deus nos dá em Jesus Cristo. E a fé que vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo (Rm 10.17).

Aos que gozam dos benefícios desta fé, compete pregar a tempo e fora de tempo a Salvação que Deus, em Cristo, providenciou para os homens.

2. Embora o arrependimento e a fé para a Salvação sejam, ao que parece, experiências praticamente simultâneas, isto é, experiências que ocorrem ao mesmo tempo, somos levados a pensar, logicamente, que a fé precede o arrependimento, que a fé nasce antes de o homem arrepender-se.

A grande maioria dos textos bíblicos, pelo menos, nos leva a esta conclusão: Mc 5.36; 16.16 - Lc 8.50 - Jo 1.7; 3.16; 4.52. O mesmo se vê no Livro dos Atos dos Apóstolos, nas Cartas de Paulo, de Pedro e de João.

O nosso texto áureo, no entanto, diz: "Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.15). Não obstante a ordem ser inversa nesta passagem, estamos convencidos de que a ênfase dada por Jesus ao arrependimento, não altera a ordem lógica do fato, como ele se processa segundo a providência de Deus e de acordo com a experiência humana.

3. A Fé Salvadora, segundo o Novo Testamento, se caracteriza por alguns atos que lhe são próprios. Por ela o pecador aceita e recebe a Jesus Cristo; por ela o homem se firma em Cristo e nele se sente justificado; por ela o pecador se sente impulsionado a buscar a santificação e tem a certeza da vida eterna.

Neste ponto se pode distinguir entre a fé racional,a fé-adesão-intelectual que, facilmente, se transforma em frigida opinio (= opinião fria) e a fé-vida-espirítual que se manifesta através do fruto do Espírito, segundo Paulo em Gl 5.22, ou através das obras, segundo Tg 1.22,27 e 2.14-26.

Só a Fé Salvadora - que vem de Deus, como expressão do seu amor e misericórdia -, pode produzir o novo homem, a nova criatura. Vejam-se: I Jo 5.10; At 24.14; Rm 16.25-26; Gl 2.19-21; At 15.11.

3 - SEM FÉ É IMPOSSÍVEL AGRADAR A DEUS

1. Segundo Tiago, a fé produz obras, manifesta-se, exterioriza-se. A sua primeira manifestação verifica-se no profundo arrependimento do pecador. Veja-se o ensino claro da Parábola do Filho Pródigo, em Lucas, 15. Caindo em si, o jovem pródigo sentiu toda a extensão da sua miséria e disse: "Levantar-me-ei e irei ter com meu pai ... e levantando-se foi para o seu pai."

A convicção do seu erro não foi apenas teórica, mas foi produzida pela real necessidade de socorro que, desesperado, ele estava sentindo longe do pai, em cuja casa, outrora, ele gozara do amor e da segurança que agora lhe faltavam. O Pródigo tomou uma atitude: levantou-se e foi!

2. Quando esta fé nos domina, vivemos como se tudo dependesse de Deus, e agimos como se tudo dependesse de nós. Em outras palavras, cremos e não cruzamos os braços, cremos e trabalhamos, cremos e a nossa fé se manifesta em obras que atestam não só a sua existência, mas, também, a sua eficiência.

É deste tipo de fé – da fé genuinamente cristã -, que o mundo de hoje precisa. Possuir esta fé é viver perigosamente, pois ela nos leva a pregar a justiça de Deus a uma sociedade que, pela sua iniqüidade, proscreveu a Deus.

E a fé que nos leva a uma contínua inconformação com o mundo (Rm 12.2), e, também, a vivermos irrepreensível e sinceramente, como filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual havemos de brilhar como luzeiros no mundo (Fp 2.15).

3. A fé, como certeza das cousas que esperamos e como convicção de fatos que não vemos (Hb 11.1), é algo que o mundo precisa conhecer pelo nosso testemunho. Por que terá dito o Autor da Carta aos Hebreus que, sem fé, é impossível agradar a Deus?

Primeiro porque, sem fé, não há arrependimento e sem arrependimento não há reconciliação; se não há reconciliação, não há comunhão com Deus e sem comunhão com Deus o homem não realiza o seu destino, o objetivo da sua vida, porque permanece alienado de Deus.

Segundo porque, sem fé, o homem está impossibilitado de realizar a obra de Deus. Fazer a obra de Deus é evangelizar, é promover a justiça de Deus entre os homens.

CONCLUSÃO

Como servos de Cristo, os cristãos têm oportunidade de arrepender-se muitas vezes dos pecados que cometem. Quanto mais intenso é o nosso desejo de santificação, tanto mais profunda é a nossa consciência de culpa.

Chamado à realidade pelas palavras de Natã, o Profeta, Davi se arrependeu do seu grave pecado e orou a Deus dizendo: "Torna a dar-me a alegria da tua salvação" (SI 51.12). Sim, cada vez que pecamos - e o fazemos tantas vezes! -, ofendemos a Deus e perdemos a alegria da salvação.

Cada vez que nos arrependemos, recobramos a alegria da salvação, não a salvação, mas a alegria que a acompanha.

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