A novela “Amor Eterno Amor” já tem três personagens “fantasmas”, que conversam com os demais, bem vivos no folhetim. E vem mais nas próximas semanas. Por causa disso, se brinca nos bastidores que a TV Globo tem um elenco do além. Este é o terceiro trabalho de Elizabeth Jhin, ou Beth, como gosta de ser chamada. Antes ela assinou outros dois também no horário das 18h: “Escrito nas Estrelas” (2010) e “Eterna Magia” (2007). A temática espiritual permeia todas estas dramas. “Vivem me perguntando se sou sucessora de...
Ivani Ribeiro. Não sou, mas a admiro. Desde que me tornei autora principal, gosto de escrever sobre espiritualidade”, diz.
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Não tenho medo de fantasmas. Até queria vê-los, mas não tenho este dom”
Em conversa com o iG, no apartamento que mantém no Leblon, zona sul do Rio, somente para servir de escritório, Beth fala sobre o que mais gosta de escrever: os assuntos espirituais. “Sinto que estou sendo ajudada pelos espíritos”, decreta, sem antes ter vivido alguma experiência sobrenatural. A autora defende o modelo de teledramaturgia que, décadas atrás, fez o País se unir em torno de um só “símbolo nacional”. Para ela, os bons têm que ter final feliz e os vilões merecem, tal qual na vida, a morte como castigo.
“O projeto interno de todo ser humano é ser feliz. Como acredito em vida após a morte, se (os maus) não tiverem punição aqui, vão ter depois, o que deve ser muito pior”, diz ela, um tanto sorridente. De óculos vermelhos Bvlgari, Beth, que está com 62 anos, está cercada de livros como “Karma e Reencarnação”, “Crianças que se lembram de vidas passadas” e o clássico “O livro dos espíritos”. “Não tenho medo de fantasmas. Até queria vê-los, mas não tenho este dom”, se queixa a autora, com o computador ligado, à espera do próximo capítulo.
Foto: Selmy Yassuda
Elizabeth trabalha isolada em um apartamento, no Leblon
iG: A senhora está na terceira novela com temática espiritual. É uma trilogia?
Elizabeth Jhin: Não me chame de senhora, não. Assim me sinto uma pessoa de 150 anos (risos)! Na verdade, não quero ficar só na trilogia. Desde que me tornei autora principal, tenho vontade de escrever sobre espiritualidade. Quero pelo menos mais uma novela sobre o assunto.
iG: É espírita?
Elizabeth Jhin: Não, tenho formação católica. Hoje em dia não posso falar que tenho religião, porque gosto do budismo e sou simpatizante do espiritismo. Sempre que posso, vou à Casa de Padre Pio, um centro de estudos versado em várias doutrinas espíritas.
iG: Te incomoda o rótulo de “autora espírita” da Globo, que já pertenceu a Ivani Ribeiro?
Elizabeth Jhin: Não gosto, porque não sou espírita. Sou autora que fala de espiritualidade. Para ser espírita, tem que estudar muito. Pode ser que no futuro me torne uma. Mas hoje sou apenas espiritualista. Não sou sucessora de Ivani, mas a admiro. Adoro “A Viagem” (1975 e remake em 1994).
iG: Acredita em reencarnação?
Elizabeth Jhin: Muito, muito, muito. Acho este tema fascinante. Leio livros desse assunto. São casos comprovados cientificamente. As pessoas vão pular quando ler eu falando isso. Mas é preciso ter fé também.
iG: Já presenciou algum caso paranormal?
Elizabeth Jhin: Morro de vontade de passar por uma coisa assim, mas nunca até hoje... Infelizmente nunca vi espírito. Às vezes os sinto, sinto que estou sendo ajudada por coisas boas. Mas nada de arrepios... Nada disso.
iG: Ajuda de quem?
Elizabeth Jhin: São amigos de luz. Coloco a personagem da Clara Castanho falando isso na novela. São espíritos que vêm nos ajudar, como os anjos da guarda que nos acompanham.
iG: Em “Amor Eterno Amor”, alguns personagens conversam com mortos. Você fala com espíritos?
Elizabeth Jhin: Não falo com pessoas que já se foram. Rezo por elas, mas nas minhas orações falo com Deus. Não tenho medo, não. Até queria vê-los. Mas não tenho este dom.
Foto: Selmy Yassuda
Elizabeth Jhin, 62 anos
iG: Esta fita vermelha no seu pulso é da cabala?
Elizabeth Jhin: Não, é do Nosso Senhor do Bonfim. Fiz três pedidos, mas esperando ainda para que sejam realizados. No candomblé, sou filha de Xangô. Acho o máximo esta religião.
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A novela é no Pará por causa da minha mãe, que era paraense”
iG: Comentou-se que “Amor Eterno Amor” se passa no Pará por exigência da Globo, que teria baixa audiência no estado. É verdade?
Elizabeth Jhin: A novela é no Pará por causa da minha mãe, que era paraense. Olha só minha família: meu pai era baiano, nasci em Minas, minha irmã é carioca, casei com um chinês e meus netos também são cariocas. Minha mãe foi uma pianista com bastante sucesso no Pará. E a próxima será uma homenagem à origem do meu pai, na Bahia.
iG: Em sua primeira novela como autora principal, “Eterna Magia”, as personagens bruxas não foram bem recebidas por parte do público. Pensou em desistir da carreira?
Elizabeth Jhin: Não. Foi uma novela mal entendida. As personagens não eram bruxas. Se tivesse colocado como fadas, talvez fosse melhor. A palavra ‘bruxa’ era para remeter a pessoas boas. Foi um momento de transição, quando o ibope das novelas começou a mudar devido ao excesso das redes sociais e outras mídias.
iG: Sua atual novela é elogiada, mas mantém audiência média de 23 pontos, o que é pouco para o horário. As pessoas estão vendo menos novelas?
Elizabeth Jhin: Não acho que estão vendo menos novelas, mas estão vendo outras coisas ao mesmo tempo. É a diversificação de interesses, uma realidade que não pode ser mais ignorada. Na época de “Roque Santeiro”, por exemplo, só se via novela. Agora, se vê novela, acessa internet, grava um programa, muda para a TV a cabo... A novela está sendo consumida de outra maneira.
Foto: Selmy Yassuda
Lanche: gelatina de maracujá e refrigerante
iG: Então você concorda que novela deixou de ser o atrativo principal do público. Isso não pode ser perigoso para o produto?
Elizabeth Jhin: A TV faz parte da nossa cultura, de forma tão visceral, que a novela não vai sair de moda. Mal comparando, é como o teatro grego, que fazia todo mundo ver, comentar, se unir em torno de uma catarse. Novela é uma forma de unir um país.
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O castigo não é a morte, mas o que vem depois. Pelo menos espero que seja assim”
iG: Toda novela tem que ter final feliz?
Elizabeth Jhin: Claro! Já basta a vida, que não tem final feliz. As pessoas entram naquela fantasia. Todo mundo espera a felicidade. O projeto interno de todo ser humano é ser feliz. Não gosto de grandes maldades em novelas. Meus vilões ou morrem ou são bem castigados no final.
iG: A morte é um bom castigo?
Elizabeth Jhin: Como eu acredito em vida após a morte, sim, porque acredito que estas pessoas vão sofrer depois de morrer, lá em outro plano. Se não tiverem punição aqui, vão ter depois, o que deve ser muito pior. O castigo não é a morte, mas o que vem depois. Pelo menos espero que seja assim.
Foto: Divulgação/TV Globo
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